quarta-feira, abril 09, 2008

Jane Karenina, uma cabra que tinha ambição

“Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira”.

Das muitas vezes que Jane Karenina ouviu esta clássica frase, a última foi a mais marcante, porque foi-lhe dita por um narrador onisciente: eu mesmo. Como todo ser onisciente, sei tudo sobre todas as coisas, menos matemática. E sei que não é de bom tom citar em profusão frases célebres de autores famosos, mas não me contenho. Duvida? “In dubio, pro reo”, ora, ora. E mando outra, agora para o responsável por Jane Karenina, o camponês Abraão:

- Toma uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho.
- Por que, cazzo?
- Porque... porque... porque... (droga!)

Nisso, Jane fugiu. Eu deveria saber...

Antes de falarmos sobre o destino de Jane Karenina, vamos falar um pouco sobre o seu passado? Espera... Estou lembrando... Este seu passado, hein? É melhor falarmos sobre o passado de Jane Karenina que, ao menos, era conservadora.

Jane Karenina era uma cabra. Sua família, como as brasileiras, mantinha os quatro pés no chão. Isso irritava a pequena Jane, que sonhava alto: “Eu quero brilhar, quero brilhar!” Os parcos recursos de Abraão, seu criador, não lhe permitiam realizar o sonho de Jane. O máximo que pôde fazer foi comprar-lhe 8 frascos de meio litro de Listerine, totalizando... totalizando... 8... vezes...1/2... isso dá... dá... (droga!)... pô, dá litros à beça de Listerine! “Jane, seus dentes vão brilhar”, disse Abraão, melancolicamente. E este foi todo o passado remoto de Jane Karenina, porque apesar de onisciente, ando tendo lapsos de memória cada vez mais freqüentes. Ou menos, não lembro agora...

Depois de fugir do sacrifício que eu havia imposto a Abraão e magoada com seu antigo tratador, Jane partiu para o Egito, lugar tão fantástico e fantasioso que eu até duvido que exista. Sua jornada levou quarenta dias, dias sofridos e arredondados (quanto dá cinco semanas e meia em dias?). “Se o mundo lhe dá limões, faça uma limonada”, ela pensava. Em sua pequena algibeira, os frascos de Listerine garantiram sua sobrevivência durante o percurso, o que lhe rendeu um belo diferencial estético: dentes brancos e hálito puro. O primeiro a notar tal qualidade foi o bárbaro Alexei, um gladiador assírio de alma gentil que gostava muito de animais. Mas assim, ele gostava MUITO de animais. E tinha um passado que... putz, este eu queria não lembrar... Mas seduzido pela ambiciosa Jane, casou-se. No Egito isso era comum à beça durante o carnaval.

Alexei, o bárbaro, investira boa parte de seus ganhos como gladiador em terras. Comprou um pedaço de chão no Oriente e ali decidiu criar cabras para formar um harém. Eu sabia, tanto que um dia, resolvi lhe fazer uma surpresa e estreei o microfone que usaremos no Erratacast e lhe disse:

- Toma uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho.

Alexei tomou um susto tão grande, que desenvolveu uma gota que o matou. Nunca havia ouvido um narrador onisciente antes. Esses bárbaros de pouca fé... Já Jane, viúva rica e magoada com seu finado e polígamo marido, fugiu novamente, mas com as escrituras das terras. Eu deveria saber...

O que não lembro é o que aconteceu com Jane durante os anos seguintes. Só me lembrei dela porque anteontem vi uma reportagem na CNN sobre a guerra no Iraque que tratava sobre os barões do petróleo daquele país. Dentre eles, havia uma excêntrica cabra que, segundo a matéria, investia pesadamente em ferrovias no Oriente Médio e que tinha prazer especial pelas artes dramáticas, tanto que era a maior estrela iraquiana de musicais e comédias românticas do cinema nacional. Era Jane Karenina, já não tão conservadora mas linda como sempre, com seu gingado quadrúpede e aquele fogo nos olhos, cintilando de ambição. E brilhavam como estrelas, aqueles dentes... Ao olhar para eles, lembrei-me que alguns fenômenos astronômicos tais como eclipses, conjunções planetárias e aparecimento de cometas de curto período são cíclicos e que, com isso, podemos saber com precisão suas datas de ocorrência através de cálculos matemáticos. O problema é que eu não sei como fazê-los... (droga!)

E este é o destino de Jane Karenina. Mas eu já sabia, só não lembrava direito.

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