sexta-feira, maio 02, 2008

ENTREVISTA 101: Xico Sá

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Xico Sá é um sujeito masculino e multifacetado, sempre cercado por palavras. É escritor, cronista, roteirista, letrista e confeiteiro; escreve limeriques em bolos como ninguém. Das capitanias hereditárias de seu antepassado Mem, sobrou-lhe apenas a calvície. Seus únicos parentes conhecidos são a irmã Sandra e o amigo de Guarabira, mas ele não gosta de falar sobre hereditariedades, nem capitanias.

Jornalista por profissão - ora investigativo, ora cultural, ora, ora – foi responsável por grandes furos jornalísticos e culinários, ganhando várias rifas de frango por sorte e sendo reconhecido com o Prêmio Esso de Jornalismo e Prêmio Folha por competência. É autor prolífico, com oito obras publicadas e com participação como co-autor em outras cinco, além de ter escrito dezenove receitas de bolos. Roteirista do filme "O Deserto Feliz", desde 2005 é também ator esporádico e espasmódico, quando sóbrio. No passado foi groupie - ou “parceiro musical”, como faz questão masculina de frisar - do grupo Mundo Livre S/A e radialista no longínquo país do Cariri, separatista desde que Xico passou a transmitir suas receitas pelas ondas sonoras do sertão.

Atualmente, escreve (alta) literatura disfarçada sob a forma de crônicas futebolísticas às sextas-feiras, no jornal Folha de São Paulo, dia em que também elabora seus melhores bolos. E elaboraria outros mais se a coluna fosse publicada no fim de semana, quando apenas o álcool, as letras, a hereditariedade e uma bananeira lhe fazem companhia em aventuras descritas em seu blog pessoal, “O Carapuceiro”.

Então, um brinde masculino, Xico! E Sá(ravá)!


Revista Errata - Você é uma pessoa muito ativa, inclusive nas relações ditas homossexuais. Entre política, drogas, sexo e futebol, você poderia nos liberar um furo que mataria muito PC Farias de inveja?
Xico Sá -
Rapazes, na minha terra a moral mínima sempre foi essa, de mão única: só é viado quem dá, quem cede o fogareiro, o boga, o fiofó, o oiti... Como fazer, sem um dólar furado no bolso, para assistir aos velhos faroestes ou os tantos Tarzans sem antes comer o baitola, o belo perobo que fazia ponto no cinema, o heróico Eudes do cine Eldorado de Juazeiro? Só se fosse roubando. E entre roubar e abater um viado limpinho, sempre escolhíamos a legalidade, por supuesto. E chega de furos, encerrei a carreira de Bob-Watergate-Woodward-do-Crato numa casa de massagem de Bancoc, Tailândia, anos 90, minutos antes de embarcar com PC Farias para o Brasil.

Revista Errata - Em tempos de biodiesel, e vindo da Catalunha brasileira, você vê o Nordeste como o futuro motor separatista do Brasil?
Xico -
Separar nada, isso é papo de sulista. Vamos ser a grande potência exatamente para inverter o mando, fazer o eixo Rio-SP se curvar mais uma vez diante da Nação Kariri, será um lindo e humilhante massacre. Mas em uma coisa, infelizmente, não vamos poder nos vingar direito: não tem como mandar de volta à Central Globo de Dramaturgia toda a merda que nos enviaram nesses anos todos. Sorry, dotô Roberto Marinho, adonde o sr. estiver.

Revista Errata - O que o jornalismo já lhe rendeu até agora? Você ficou rico escrevendo? Minha vida depende de você... O agiota mal-encarado que me liga todo dia não parece ser lá muito compreensivo.
Xico -
Amigos, quem bebe bem e fode muito mal não tem tempo para ficar rico. Para completar, acho que dinheiro ganho com jornalismo é igual a dinheiro ganho com jogo de azar: a gente tem que torrar mesmo, imediatamente, porque, convenhamos, não se trata de um ofício dos mais honestos e religiosos da face da terra. De qualquer forma... pra comer não, mas pra beber te ponho na mão umas patacas. É só chegar aqui na esquina da Fernando de Albuquerque com a Augusta, distrito da Consolación, San Pablo, daqui não sairás com o fígado impune.

Revista Errata - Você tem um caso bem comovente sobre uma tia com prisão de ventre, mãe de um filho que enriqueceu limpando fossas. O que você acha da liberdade de imprensa, da liberdade jornalística, da Lei Áurea e do caso Luis Nassif versus Revista Veja?
Xico -
Porra, pelo menos essa história familiar da merda começou a me render um romance até decente, tô terminando o danado agorinha. Alias já teria terminado se não fosse a bosta dessas minhas respostas a esta entrevista, mas deixa pra lá, a comédia é essa. Quanto aos jornais,revistas e periodistas envolvidos nas grandes questões nacionais, só tengo um conselho para o distinto público: não compre jornal, minta você mesmo!

Revista Errata - Gelo. Uma hora ele está lá, outra hora não. Mau-caráter?
Xico -
Aí sim, uma questão edificante. Em SP, no verão, pelo menos as tempestades ajudam: basta botar o uísque na janela que a chuva de granizo prepara o nosso drinque. Minha patroa também é do ramo: sempre me recebe com três pedras na mão, para dizer o mínimo, como escrevem os editorialistas da Folha.

Revista Errata - Para trazer o personagem aos tempos modernos, os roteiristas de Hollywood farão Indiana Jones partir em busca de uma virgem no próximo filme. Você não acha uma sacanagem sacrificá-las em nome de deuses pagãos? No roteiro de Deserto Feliz, você privilegiou tais iguarias de destinos semelhantes?
Xico -
Rapaz, se o Paulo Caldas (diretor do filme) dependesse destas mãos calejadas para fazer o filme... o máximo que chegaria era a participar do Festival do Minuto, o certame de micro películas do Sesc São Paulo. Sou totalmente Mobral, analfabeto de pai e mãe em matéria de transformar qualquer coisa em imagem de cinema. Pero, com a ajuda de Caldas,Manuela Dias e Marcelo Gomes (“Cinema,Aspirinas e Urubus”) até que botei uma ou duas putarias na história, principalmente empurrei a desalmada da lolitinha sofrida na raparigagem da vida pro inferno de vez.

Revista Errata - Da sua experiência no convívio com pseudo-celebridades, você escreveu um livro sobre a corrida narcisa tamburella em busca da fama. O que tem de divino na comédia do Big Brother?
Xico -
Sim, escrevi um livro de encomenda para a editora Objetiva,do Rio, que se chama “Divina Comédia da Fama –paraíso, purgatório e inferno de ser uma celebridade”. Até que vendeu bem, mas ninguém ficou com essa miséria em casa, todo mundo vendeu no sebo, inclusive os amigos. Sempre encontro o danado autografado nas calçadas. Eu faria o mesmo. De divino no BBB só o que rende de punhetas para os nossos bravos mão-peludas Brasil afora.

Revista Errata - Jesus optou por transformar água em vinho ao invés de transformá-la em aguardente, o que semanticamente seria muito mais simples. Ao contrário do Pai, que é tímido, Ele não te parece exibido?
Xico -
Sim, eis o momento crucial da humanidade. Ao optar pela viadagem do bom vinho, essa coisa que enche a boca de orgulho dos Renatos Machados da vida e outros exibicionistas e novos-ricos, o cabeludo da cruz criou a confraria mais esquisita do mundo: a dos homens que cheiram a rolha e chacoalham a porra na boca antes de mandar para dentro.

Revista Errata - O mangue beat foi um rótulo criado pela imprensa sulista para definir o indefinível, ou os caras do Chico Science e do Mundo Livre S/A tinham consciência do que estavam fazendo, apesar de você mantê-los em coma alcoólico 90% do tempo?
Xico -
Imagina se com a boa maconha, Cabrobó roots, do começo da década de 90, alguém tinha noção de qualquer coisa no Hellcife. Foi lindo, mas não me pergunte como!

Revista Errata - Xico, quais são seus ídolos? Você acredita no fim do mundo? Qual é o sentido da vida? Quem é Deus? Qual é a solução da pobreza? Qual é o final de Lost? Responda numa só frase e com rimas.
Xico -
Que os ídolos ardam na fogueira
De lenha boa e acesa na cachaça,
Que Deus tome uma e veja a farsa
Que submeteu essa nação fuleira,
Pois a única saída para a massa:
É fazer merda e pedir a saideira!

Revista Errata - Dê um conselho verdadeiro para os futuros jornalistas e conte uma mentira para os nossos leitores.
Xico -
Tudo num só verso de Fred Zero Quatro: jornalistas mortos não mentem.

BATE-BOLA:
- Bananeira:

Fotossíntese do pau.
- Bolsa-Família:
O direito do miserável poder curtir uma ressaca sem ter que ser escravizado às 5 da manhã debaixo de um sol filho da puta de quente.
- Um processo inesquecível:
O do coronel Ubiratan, aquele do massacre do Carandiru. Deus castiga!!!
- Nova literatura brasileira:
Bebe-se pra caralho e escreve-se socialmente, inclusive este escriba caindo aos pedaços, se é que vocês me entendem.
- Cuecas boxer:
Tô dentro até o talo.
- Região sudeste:
É como a linha paulista do metrô e também como o amor: começa no Paraíso e termina na Consolação.

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